O bom selvagem



Lá estava eu no primeiro período do curso. Dava meus primeiros passos universitários quando me caiu em mãos um texto sobre crianças que crescem isoladas da sociedade.Foi chocante, mas fascinante, aquela reflexão sobre os limites da humanização.

Pois bem, cinco períodos depois, esse assunto cai novamente sobre mim.Território Livre tema proteção. Por acaso fico responsável pela matéria sobre proteção materna/paterna.

Durante a apuração, constato que o assunto é imenso. Em meio a tantas angulações, deparo-me de novo com aquele tema que tanto me fascinou no primeiro período: crianças selvagens.

É claro! Como não tinha pensado nisso antes?! A relação, hoje, soa óbvia. Estudiosos afirmam que a criança se torna humana através do contato e da proteção de outros seres humanos. Logo, não é difícil a associação com essas crianças que crescem longe da sociedade, muitas vezes, ao lado de animais, como ursos, macacos ou lobos. Um dos casos mais famosos é, certamente, o das meninas Kamala e Amala. Elas viviam com lobos, na Índia, até serem encontradas, em 1920. A situação das garotas era espantosa: andavam de quatro e uivavam.

Amala morreu dez meses depois de sair do convívio dos lobos. Kamala viveu mais oito anos, até cerca de 17 anos. Nesse tempo ela não conseguiu aprender mais que 50 palavras.

Mais uma história intrigante é a do garoto conhecido como Peter, o selvagem. Ele foi encontrado em Hanover (Alemanha), em 1724. Gostava de comer apenas alguns vegetais, também não falava, e subia facilmente em árvores. Foi levado para a Inglaterra, onde foi estudado. Peter viveu 68 anos, mas nesse tempo aprendeu apenas a falar poucas palavras.

Outro caso muito conhecido é o do Selvagem de Aveyron, também conhecido como Victor de Aveyron. Em 1799, caçadores o encontraram, na França. Ele tinha cerca de doze anos. Não falava, trotava,tinha muitas cicatrizes e farejava os alimentos. Victor morreu aos 40 anos. Também não conseguiu aprender muitas palavras. O filme “O garoto selvagem” de François Truffaut retrata esse caso.

Por fim, mais uma história célebre é a de Kaspar Hauser. O garoto não cresceu ao lado de animais ou na selva, mas também viveu em isolamento. Ele apareceu em 1828, então com aproximadamente16 anos, numa praça de Nuremberg.

Kaspar sabia escrever seu nome, falava e andava mal e tinha medo de muitas coisas. Mais tarde ele revelou que foi criado numa espécie de porão, recebendo comida por um buraco. Foi por lá também, que uma voz lhe ensinou alguma palavras.Ele morreu misteriosamente num atentado à faca, o segundo sofrido por ele. Esse caso só aumenta ainda mais o mistério envolvendo Kaspar. Algumas lendas chegam a dizer que ele era de uma família nobre. Essa história foi transportada ao cinema pelo alemão Werner Herzog (em inglês), em “O enigma de Kaspar Hauser”.

As histórias desses jovens despertam uma mistura de sentimentos.Uma gama que não poderia ser menos complexa que esses casos.
comentários gerenciados pelo Disqus